Para falar da obsessão por um padrão de beleza – ou mesmo de
vida - ideal, queridas meninas, hoje eu
começo minha reflexão em torno de dois contos. O primeiro é de um autor
guatemalteco, do século XX, um dos mais importantes da literatura
latino-americana, e o mestre maior do conto breve no panorama mundial. Amante
da narrativa irônica e bem-humorada, quase sempre curta, revelou-se um crítico
eficaz do comodismo e da subserviência. O segundo é de um autor francês, do
século XVII, considerado o pai da fábula moderna que, ao se referir a esse gênero, dizia : “É uma pintura em que podemos encontrar nosso próprio retrato”.
Ei-los
abaixo:
O rã que queria ser uma autêntica rã
(Augusto Monterroso)
Era
uma vez uma rã que queria ser uma rã autêntica, e que todos os dias se
esforçava para isso. No começo ela comprou um espelho onde se olhava longamente
procurando sua almejada autenticidade.
Algumas
vezes parecia encontrá-la e outras não, de acordo com o humor desse dia e da
hora, até que se cansou disso e guardou o espelho num baú.
Finalmente,
ela pensou que a única maneira de conhecer seu próprio valor estava na opinião
das pessoas, e começou a se pentear e a se vestir e a se despir (quando não lhe
restava nenhum outro recurso) para saber se os outros a aprovavam e reconheciam
que era uma rã autêntica.
Um
dia observou que o que mais admiravam nela era seu corpo, especialmente suas
pernas, de forma que se dedicou a fazer exercícios e a pular para ter ancas
cada vez melhores, e sentia que todos a aplaudiam.
E
assim continuava fazendo esforços até que, disposta a qualquer coisa para
conseguir que a considerassem uma rã autêntica, deixava que lhe arrancassem as
ancas, e os outros as comiam, e ela ainda chegava a ouvir com amargura quando
diziam: que ótima rã, até parece frango.
A rã que queria ser grande como o boi
( J.de La Fontaine)
Certa rã viu um boi e impressionou-se com seu belo porte.
Envergonhada com seu minúsculo tamanho, pretendeu encher-se de ar, até igualar
o tamanho do grande animal, objeto de sua admiração.
Envaidecida, disse as suas companheiras:
- Vejam, irmãs, estou ficando grande? Já igualei meu tamanho
ao do boi?
- Não! - responderam.
- E agora?
- Ainda não.
- Agora, penso que consegui...
- Ainda está muito longe!
A rã, então, foi inflando-se, cada vez mais, até que sua
pele, não mais resistindo, se arrebentou.
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Como não nos remetermos, por meio da “rã”, ao que estamos
presenciando hoje? A necessidade premente de querer ser diferente do que se é, por
não aceitação, por uma autoestima distorcida, fragilizada ou pela busca frenética por
padrões de vida e/ou de beleza
inalcançáveis?
Somos invadidas, caras leitoras, todos os dias por imagens de corpos
esculturais, looks bafônicos, cabelos impecáveis, mulheres lindas, glamorosas,
saudáveis, saradas. Aquelas mulheres-modelos-capas de revista – sim, elas são lindas- não são o retrato da vida real. Elas vivem
disso, ganham dinheiro para parecerem perfeitas. Fora a produção para deixar as
meninas verdadeiras bonecas, cada foto é tratada, manipulada e corrigida. E
quando vemos a foto pensamos: Meu Deus! Como elas são perfeitas!
Imagina ter que estar sempre linda, penteada e nunca mais
poder comer um “podrão” ou um X-tudo super completo na birosca? Se alimentar bem,
ok. Viver em função da dieta e do corpo: furada! Estar bem vestida, ok. Tratar
a beleza como fator mais importante da sua vida: furada! Se cuidar, ok. Fazer
loucura em nome de padrões estéticos: SUPER FURADA!
Ok, meninas, na teoria é muito simples: Basta dizer não a essa
ditadura da beleza e ponto! Mas na prática, lidar com essas “cobranças” pode
ser muito mais difícil do que parece. Como se manter segura e livre do padrão
Angel? Vamos lá!
Devemos ter em mente que a aparência, na escala de
prioridades da vida, não ocupa, ou não deveria ocupar, o primeiro lugar! Adianta estar linda e sem
saúde? Adianta ser linda e infeliz? Então, antes de colocar tudo em função da
aparência, reflita e busque levar uma vida mais leve, com menos cobranças, se
amando, se conhecendo. Seja feliz!
Lembrar que a vida não é uma competição também é muito
importante. Você não tem que ser mais bonita, mais magra, mais feliz que
ninguém. Você tem que tentar todos os dias ser melhor que você mesma, hoje ser
melhor que ontem. Não vá fazer loucuras em busca da barriga de fulana, das
pernas de beltrana. A sensação é que vivemos em um mundo em que as mulheres são
postas o tempo todo sob julgamento e classificadas por seu “tipo de beleza”,
“tipo de roupa”, “tipo de vida” e assim, acaba sendo normal acharmos que
precisamos ser mais bonitas que a amiga, mais arrumadas que a vizinha.
Se sentir bonita tem a a ver com segurança, respeito a si
própria, felicidade e autoaceitação. Se
gostar, mesmo conhecendo suas imperfeições, saber valorizar seus pontos fortes e ser fiel
a sua essência conta muito na hora de se sentir “poderosa” ou não. Então, se
olhe no espelho e faça o exercício de perceber quão especial é essa pessoa que
tá ali te olhando. Se veja com olhos de “melhor amiga” e seja legal em sua
avaliação!
Quando damos um basta nessas cobranças irreais podemos ter
objetivos tangíveis e assim ficamos realmente motivadas para melhorar nossa
saúde, nossa aparência e nosso corpo. Mas quando “competimos” com imagens
irreais de beleza estereotipada o tiro sai pela culatra e você, já que não terá
o corpo perfeito, afogará as mágoas na comida ou em hábitos que nos fazem mal.
Isso, muitas vezes, acontece por sermos imobilizadas pela busca de um ideal
que, para os nossos corpos, pode ser inatingível. Aí vem um ciclo: frustração,
angústia e desmotivação.
A perfeição é algo que não existe e a busca pelo corpo
perfeito pode ser uma busca vazia, irreal e até mesmo injusta.
Não seja a rã, personagem das narrativas acima, seja Você mesma
a sua melhor versão!
Prepare sua playlist, dance de frente pro espelho ou saia pra
uma caminhada; procure se interessar por outras coisas, leia bons livros, cerque-se de pessoas que te façam bem! E,
quando olhar-se no espelho, da próxima vez, descubra o brilho em seu olhar, o
brilho de uma mulher que se descobriu apaixonada por si mesma, em primeiro
lugar! Esse brilho surge quando você se aceita como é, quando você se
ama...quando você já sabe o que te faz mal, aquilo que você não quer mais e,
principalmente, quando você está focada em agradar a si mesma, antes de mais
nada.
*Texto dedicado especialmente às minhas inesquecíveis alunas!
hashtag:mulheresbemresolvidas
Fontes:
Imagem:
http://universodasfabulas.blogspot.com.br/2011/10/ra-que-queria-ser-grande-como-o-boi.html
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http://universodasfabulas.blogspot.com.br/2011/10/ra-que-queria-ser-grande-como-o-boi.html