Rosana Gimael Blogueira

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terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Janis Joplin: Little Girl Blue...uma reverência


“Com esse vozeirão deve ter  algum parentesco com o  Little Richard. Só negão - devo aqui, hoje,  chamar de afrodescendente - tem esse agudo metálico na voz...como é o nome do cantor dessa banda?”
A “informação” não revelou o mistério, o “cara” chamava-se Janis Joplin.
“Como será que ele é? Cantando desse jeito, ele deve ter um visual muito louco! Você tem uma foto dele?  O quê? É um loiro cabeludo??? Como???”
“Pare de suspense e me diga logo...”(...)
“Não pode ser! Janis Joplin é mulher!?”

Imagens: Google

E foi assim, através do meu amigo-irmão-parceiro  Rodolfinho, na minha fértil adolescência, que tive o meu primeiro contato com ela, a minha musa de voz poderosa que cantava e se expressava com a alma, voz que preenchia inicialmente todo o quarto dele, depois  o meu quarto, todo o meu Universo particular, que se fazia ecoar  até o Morro Castanho, lá na Cidade Universo rsrsrs.

E a locomotiva Janis passa, então, a trilhar minha vida, leve feito borboleta para depois reconfirmar minhas suspeitas de que o mundo é dos que  sonham, que loucura pouca é bobagem, que o palco é mesmo o lugar perfeito para pessoas como ela exorcizarem todos os males.

O mundo ficou hipnotizado com suas aparições. Tudo tão espontâneo, não havia poses nem marcações, ela soltava a voz como uma leoa, dava chutes no ar e estrangulava o microfone feito uma guerreira hipnotizadora, deixando a todos em transe. De aparência frágil, ela era entorpecida pelo álcool e afins, tinha a pele esburacada, era uma chaminé ambulante – ela dizia que fumava daquele jeito para “lapidar” os graves da voz... sempre com óculos coloridos enormes cobrindo metade do rosto, lenços e boás esvoaçantes, cabelos às vezes de bruxa.

Quando veio ao Brasil , a Imprensa não deu a mínima...ela passeava pelas ruas e praias  sem ser reconhecida, adorou cachaça com groselha na companhia de Serguei-psicodélico roqueiro, hoje com oitenta e poucos anos e com quem – dizem -teve um caso. Ela era meio risonha, meio tímida, em entrevistas não tinha discursos prontos, parecia não se achar importante para maiores declarações.

E seguíamos -eu e Rodolfinho-, ouvindo-a em fases distintas e bastante oscilantes, cantando as músicas quando nos sentíamos tristes ou  quando estávamos felizes; quando estávamos pra baixo ou pra cima...Vez ou outra, arriscava eu uma performance  entre quatro paredes, sempre seguida dos olhares desse meu lindo amigo ora de incredulidade ora de timidez incontida ora de desaprovação. E, depois, ficávamos imaginando como seria conhecê-la...sabíamos muuuito dela, sabíamos que ela era capricorniana – nascida em 19 de janeiro -, do mesmo signo que o meu e, em cima disso, procuramos saber mais dos capricornianos,  acabando  por nos enveredar pela Astrologia em certos momentos. Sabíamos o significado de cada uma das canções, a correspondência de cada uma delas com momentos da vida dela, a visão que ela tinha sobre o mundo. Sabíamos muito sobre Janis...e a amávamos por demais!

Janis no Rio de Janeiro: Google

Eu fiquei com o “bolachão” dela que “roubartilhei” dele. Bem depois, um pouco antes de ele partir deste plano, deixei-lhe um livro (biografia) dela...em nosso último encontro, ambos com olhos marejados, ambos em silêncio. Ambos de mãos entrelaçadas, sem mais palavras, apenas a sensação de um certo pertencimento.  Em outra mão, ele afagava o livro. Foi assim a nossa despedida.

Ficaram as lindas lembranças de uma época em que tudo parecia grandioso demais para se expressar em palavras. A música era o nosso canal de comunicação muito maior, a linguagem íntima de almas que se reconhecem afins. 

E Janis Joplin, a nossa musa inspiradora, a nossa Little Girl  Blue era a nossa “companheira”- cúmplice dos nossos altos papos, do nosso idealismo, de nossa "ideologia".



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